"Tinha que Ser Você" é um desperdício de premissa. Explicando: é bacana ver a história do despertar do amor entre duas pessoas já longe do padrão de juventude. Foge um pouco do arquétipo do “casal jovem” e atende a uma parcela do público, mais madura, carente de filmes com os quais possa se identificar. O problema é quando só a idade dos personagens parece fugir do lugar comum.
Dustin Hoffman e Emma Thompson vivem, respectivamente, o americano Harvey Shine e a inglesa Kate Walker. Ambos os personagens têm em comum a evidente solidão em que vivem e o sentimento de deslocamento quando em contato com outras pessoas. Isso fica um tanto evidente, no caso de Harvey, no reencontro dele com sua família, em Londres; e no caso dela, num “encontro às escuras”, idealizado por uma amiga, e que só serve para reafirmar o sentimento de desesperança na personagem.
O Harvey de Dustin Hoffman não chega a ser uma pessoa reticente ao envolvimento com outras pessoas. Na cena em que ele tenta estabelecer uma conversa com a moça sentada ao seu lado no avião, e que logo corta as expectativas dele, percebemos a vontade de Harvey de interagir. A questão é que ele parece ter perdido, ou nunca ter tido, o tato na relação com outros. Além disso, ele demonstra um evidente sentimento de inferioridade, tanto em relação à sua profissão, quanto quando, em certo momento, diz achar que constrangia sua filha e ex-mulher.
Já Emma Thompson vive uma mulher aparentemente forte, mas receosa de sofrer mais uma decepção em um novo relacionamento, e que convive com o controle exercido pela mãe (interpretada por Eileen Atkins), que a pressiona para que deixe de ser solteira.
Depois de sofrer alguns contratempos, tanto no trabalho quanto em família, Harvey conhece Kate no aeroporto onde ela trabalha, e inicia com ela uma conversa que pode ser a chance para os dois de se abrirem para a vida. Se no início, o encontro dos dois se dá de forma ríspida, logo a identificação entre eles trata de tornar forte a vontade dos dois de não perder a companhia do outro.
O filme lembra um pouco “Antes do Amanhecer”, de Richard Linklater, já que em ambas as histórias a base do despertar do romance entre os personagens é o diálogo, a conversa que se estende pelas ruas de uma cidade européia. Mas diferente do trabalho de Linklater, “Tinha que Ser Você” investe em clichês do gênero romance e em subtramas que só quebram o clima do filme. O que foi aquela cena da protagonista experimentando vestidos? É um recurso tão batido que chegou a dar uma certa vergoinha. E é uma pena ver a veterana Eileen Atkings sendo usada para uma personagem que poderia muito bem ser só mencionada no filme. A personagem dela funciona na obra quando é mostrado o quanto ela controla a vida da filha, Kate. Mas a subtrama dela com o vizinho poderia muito bem ter ficado de fora da projeção.
O diretor e também roteirista Joel Hopkins, em seu segundo trabalho, tem dois superatores em cena. Ele poderia ter sustentado muito bem o filme se tivesse focado inteiramente neles.
Direção: Joel Hopkins
Roteiro: Joel Hopkins
Elenco: Emma Thompson, Dustin Hoffman, Eileen Atkings, Kathy Baker
P.S: Tanto Hoffman quanto Emma foram indicados para o Globo de Ouro 2009 por suas atuações, na catergoria comédia ou musical.
Nenhum comentário:
Postar um comentário